Policiais civis são acusados de extorsão, corrupção e lavagem de dinheiro
Denúncia do MP contra 13 policiais foi entregue à Justiça.
Escutas telefônicas foram usadas para incriminar os acusados.
O Ministério Público (MP) terminou uma investigação e denunciou à Justiça 13 policiais no final do mês de abril. Eles são acusados de extorsão, corrupção e lavagem de dinheiro.
Veja o site do SPTV
A denúncia foi feita há seis anos, no SPTV. Os promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado levaram todo este tempo para reunir as provas que incriminam homens da elite da Polícia Civil.
Os policiais agiam em oito cidades da Grande São Paulo. Segundo o MP, com o dinheiro sujo, eles compraram carros de luxo e até mansões no litoral.
Oito e meia da noite. Pelo telefone, dois homens falam de uma pessoa que não pagou o que devia a eles.
- Acho que esse cara deu "chapéu", viu?
- "Chapéu" o caramba. Não tem como sumir daqui.
- Se deu chapéu, não passa de segunda esse cara.
- Segunda-feira, nós "mata" ele.
Eles são policiais, que fazem parte de um grupo de elite da polícia paulista. Maurimar Batalha, investigador, e Eduardo Peretti, delegado.
Os dois são do Garra, o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos do Alto Tietê, que atua em oito cidades: Mogi das Cruzes, Itaquaquecetuba, Salesópolis, Poá, Suzano, Ferraz de Vasconcelos, Guararema e Biritiba-mirim.
Segundo o Ministério Público, o delegado, o investigador e mais 11 policiais - que deveriam combater esses crimes - estavam envolvidos num esquema de ameaças, corrupção e lavagem de dinheiro.
As investigações começaram depois de uma denúncia do SPTV, em 2002. Na época, a reportagem mostrou uma agenda encontrada num desmanche. Nela, anotações que indicavam pagamentos feitos a policiais civis.
Um homem - que conhece bem os bastidores da polícia - confirma a denúncia da promotoria. “No passado, era o jogo do bicho. Depois, o esquema de corrupção evoluiu para as maquininhas caça-níqueis e outras fontes de corrupção. Aqui se fechava os olhos e fazia de conta que não via nada.”
Para a Promotoria, as provas mais fortes contra os policiais são conversas telefônicas, gravadas com autorização judicial entre 2002 e 2003 e reveladas agora. As escutas mostram - segundo o Ministério Público - que a propina era paga principalmente por donos de máquinas caça-níqueis, desmanches de carros roubados e casas de prostituição.
Em uma gravação, o delegado Eduardo Peretti conversa com um comerciante.
- Doutor Peretti?
- Oi.
- É o anderson
- Anderson?
- Que tinha o desmanche. E aí, doutor?
- Tudo bem?
- Não sei se o senhor está sabendo, eu estou abrindo uma boate aí em Jundiapeba?
- Não estou sabendo, não.
- Eu queria saber uma coisa do senhor. Tem que conversar aí, não tem?
- Isso. De dia, você está lá?
- Estou.
- Eu peço para o investigador passar lá.
Em outro telefonema, o delegado se irrita quando descobre que outros policiais corruptos queriam cobrar propina do dono de uma casa de prostituição.
Peretti: Tem menor, alguma coisa lá?
Desconhecido: Não, tem p... nenhuma.
Peretti: Não, não paga não. Fala assim: o negocio é o seguinte: já pago entendeu? Então, quem pagar para vocês p... nenhuma não.
Segundo o MP, o resultado da quebra do sigilo bancário do delegado, que saiu este ano, revelou uma série de depósitos de donos de comércios ilegais. A Promotoria diz que Eduardo Peretti já chegou a guardar em casa quase R$ 100 mil em dinheiro vivo, além de ter imóveis e carros avaliados em R$ 1 milhão.
Para o Ministerio Público, um patrimônio incompatível para quem recebe cerca de R$ 4 mil por mês. Em Bertioga, por exemplo, o delegado tem uma casa num condomínio de luxo, avaliada em R$ 400 mil reais.
Segundo o advogado do delegado, todos os bens de Eduardo Peretti foram declarados à Receita Federal. Ele disse também que seu cliente nunca recebeu propina nem mandou matar supostos devedores. “Ele era policial de rua, policial do Garra. Teve entreveros, teve tiroteio, teve morte dentro disso, publica, na rua, nunca mandando matar ninguém por isso, por aquilo, por aquele outro, absolutamente."
Dos 13 policiais acusados de corrupção, dois foram presos em flagrante no mês passado, tentando extorquir dinheiro do dono de uma padaria. Os outros continuam trabalhando até o juiz decidir se aceita ou não a denúncia do Ministério Público.
Uma situação deplorável em que policiais que são pagos para defender a sociedade e evitar a prática de crime venham contribuir para que a criminalidade aumente. A expectativa é que todas as pessoas denunciadas sejam condenadas, recebendo as penas previstas na lei.
O investigador Maurimar Batalha não quis comentar a denúncia. Os dois policiais presos, acusados de extorsão, conseguiram um habeas corpus e já estão em liberdade. A Justiça não tem prazo para decidir se aceita ou não a denúncia do Ministério Público contra os 13 policiais.
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